29 abril, 2006

Xavier Rudd - 28-04-2006 - Thebarton Theatre - Adelaide

Eu aconselhei tudo quanto é camarada a ter Xavier Rudd no cd ou no hd. O Juninho me escutou, baixou, gravou e levou pra gente ficar escutando no trampo. Senhor Rudd apareceu na minha vida como um presente da patroa quando, ainda no papel de amiga, ela veio me visitar em 2004 e me presenteou com o cd Solace. Na primeira escutada parece legalzinho, mas com o tempo vai se apurando os detalhes, a coisa começa a ficar complexa e pronto, você tá fisgado. Depois, ao descobrir que o cara toca todos os instrumentos ao mesmo tempo no show, fudeu... Fiquei fan.

Complicadíssimo definir o som; depois das primeiras escutadas, pensa-se que é algo entre Jack Johnson e Ben Harper, mas logo se vê (ou se escuta) que o buraco é bem mais embaixo. Se alguém que já botou uma prancha de surf debaixo do braço não gostar, bom sujeito não é. Eu nunca botei uma prancha debaixo do braço, que fique bem claro.

O cara toca uma lista absurda de instrumentos. Se liga na lista do site: guitars, shakers, didgeridoos, Weissenborn slide guitars, Tongue drums, stomp boxes, djembes, harmonica, ankle bells and slide banjo. Vários deles ao mesmo tempo. Não estou falando só de tocar violão e tocar gaitinha (ele faz isso também): o cara batuca com o pé pra marcar o tempo numa caixinha com trigger de bumbo. Com o outro pé liga uns pedaizinhos. Faz um batuque batuta com as paradas de percussão e toca os didgeridoos. Toca slide guitar feito uma divindade. E quando se vê tudo isso ao vivo beira o insano, parece um cérebro dividido em 4. Acrescenta muito que o cara tem uma voz do mais fino veludo. Rola uma ajuda do cara da mesa que coloca tudo em efeitos de rotary speakers (para quem não é iniciado, o efeito é literalmente o de caixas de som girando) e toda sorte de eco. Toda a platéia fica em transe facinho, facinho.

Ele não seria um hippie surfista completo se não tocasse descalço e com camisa tie-dye, se não soubesse escrever sobre humanidade e engajamento, se não fizesse cover de "No Woman No Cry" (nem se incomode achando que é o maior dos chavães, é a versão mais honesta de que se tem noticia). Ou, ainda, se não tivesse uma banquinha recolhendo assinaturas para a criação do parque marinho de South Australia (eu já tinha assinado no Big Day Out).

Do começo, quando foi apresentado por aborígenes que fizeram uma cerimonia com fogo dentro de um teatro, até o fim, com um biz de 5 musicas, um show absurdamente maravilhoso.

25 abril, 2006

21 abril, 2006

Cera para seus ouvidos!


Com o mundo todo querendo roubar o 7 polegadas 78 rotações do vô pra pagar uma de vintage, faça melhor: escute direto da cera.

Muito antes das gravações serem feitas em vinil, elas eram feitas em cilindros de cera, sendo a primeira forma de música portatil e que teve seu boom no final do século 19.

Agora, olha a mamata que o tio traz até vocês:

A Biblioteca da Universidade da California digitalizou o seu acervo de mais de 6000 cilindros e basta ir no http://cylinders.library.ucsb.edu/ e baixar em mp3 ou até wav 24 bits!!!

Agora, se for pra reclamar do chiado, nem precisa deixar comentário!

20 abril, 2006

17 abril, 2006

"Walls in the Street", The Denison/Kimball Trio

Trilha sonora do filme Walls in the City (Jim Sikora, 1994), gravada pelo dueto Denison (The Jesus Lizard) e Kimball (Mule). Manda ver no soulseek, se conseguir. Mas vê se não cai do galho, porque a parada é torta!

16 abril, 2006

EXTRA, EXTRA!


Mas esses tio aí vão fazer música boa pra sempre, é?


Rather Ripped, disco novo do Sonic Youth, vazou na net!
Antes que perguntem: sim, é bem calmo. E, sim, é bem foda.

Big Muff Pi



"The distortion countless musicians such as Hendrix and Santana relied on for its rich, creamy, violin-like sustain. A timeless piece, the Big Muff has been defining the sound of rock guitar for the past 30 years. From Pink Floyd to the Chemical Brothers to Korn, everyone wants a piece of the 'Pi!"

Nada é mais lindo que um pedal da Electro-Harmonix. E tenho dito.

13 abril, 2006

Série "Velharias!": ohu, graça, guarda teu dinheiro pras crianças...

nos idos de 95/96 estourou um hit chamado "alright". rolou em filme de cocota e o escambal. uma pá de critico achou que essa era uma bandinha de um hit só e que não ia durar muito depois do primeiro album.
agora o supergrass tem uns dez anos e 4 álbuns, diferentes entre si, mas todos acima da média do que apareceu nesses anos. mesmo com todo mundo hoje em dia pagando uma de "roqueiro costeletudo de mullet", eles estão há 10 anos nessa sem ter pagado uma de eletronico no final dos 90 como vimos com muitos britanicos, incluindo até os rolling stones. não se enganem, eles não são do tal "novo rock", que até hoje eu não entendi o que tem de novo. talvez a data de prensagem do cd.
mas pra quê que eu falei tudo isso? pra você saber que o último album deles, lançado no começo de 2003, é um absurdo. teve o hit "grace", que você deve ter ouvido em algum lado, mas acreditem que não é so isso. se os 2 últimos álbuns não foram tão "pra cima", esse foi feito pra botar no dia em que você tá quase desistindo de sair pro rolê por falta de animo! prestem atenção no irmão aqui, ele vale cada pulso telefonico para baixá-lo inteirinho (em 192kbps, claro, porque depois você vai querer queimar o cd). caso você tenha conexão de banda larga, por que ainda não esta baixando? se eu morasse em um país civilizado, com certeza compraria o vinil. e apesar de não serem "modernos", se aparecessem de novo aqui na terrinha do pelé eu iria no show, mesmo que tivesse que vender meu big muff!

texto postado originalmente em 02/03/2004, com relevantes sutis ironias sobre estar em um pais "civilizado" ou sample rates ideais para queimar um cd. ainda não comprei esse album em vinil, mas o big muff nao deixou de ser meu.

09 abril, 2006

Campari Rrrock!!!


Ademar, Claudião e Carlão: o Mission Of Burma


TOP 10 SHOWS QUE EU VI
Antes de mais nada...

01. The Flaming Lips, Claro Q É Rock [nov/2005]
02. Sonic Youth, Claro Q É Rock [nov/2005]
03. Pearl Jam, 2º show no Pacaembu [dez/2005]
04. Television, Sesc Pompéia [out/2005]
05. Patife Band, Hotel Crowne Plaza [jul/2005]
06. Nação Zumbi, Sesc Taubaté [mai/2005]
07. Mission Of Burma, Campari Rock [abr/2006]
08. Supergrass, Campari Rock [abr/2006]
09. Iggy Pop & The Stooges, Claro Q É Rock [nov/2005]
10. La Carne, Anfiteatro da Comunicação [mai/2005]

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Eis que, num hotel fazenda no meio do nada na rodovia Dom Pedro [disseram que era Atibaia, mas só vi um trecho de asfalto, uns muros, uma estradinha de terra e o próprio hotel], aconteceu um dos principais eventos musicais do Brasil neste semestre. Lá da estrada se via o palco emergindo do descampado. Já era possível sentir as boas vibrações.

Logo na entrada, encontramos Allan Lito e Marcos Linari debatendo as conquistas da revolução e partimos pra fila. Ingressos, carteirinhas de estudante e revistas depois, rolou até um drink na faixa.

- chama-se: Campari Energy
- trata-se de: Campari com Flash Power.
- na real: Ruim demais, e nem tinha como ser diferente. Todo mundo estava bebendo só pra dar um grau, já que a cerveja lá dentro era R$4. Fui aplaudido quando joguei o meu fora. Preferi gastar R$32 em cerveja.

O palco era alto, ao contrário do show do Pearl Jam onde "baixinhos" de menos de 1.85m sofriam pra ver os candangos do meio da galera. Haviam toldos ao lado do gramado para o público se esconder da chuva, muito providenciais a certa altura do campeonato, mas isso a gente comenta mais tarde. No palco, o som já comia solto.

- chama-se: Montage
- trata-se de: Techno-eletro-sei-lá-o-quê-gay [não entendo dessas coisas que fazem blip, zóing, etc].
- na real: Eu, que sou cego, surdo e mudo em som eletrônico, sou a pior pessoa pra opinar se aquilo tinha qualidade ou não. Mas o cara tem que ter muita atitude pra subir no palco de MINISSAIA JEANS e franjinha quase à lá A Flock Of Seaguils. Começou a tocar no exato momento em que descemos da van - a 15 minutos de caminhada da entrada - e pegamos o finalzinho. Tava divertindo até então.

Aí rolou aquela social com a camaradagem presente, piadas acerca da indumentária da banda lá em cima do palco e a primeira cerveja da tarde [lá dentro, porque antes neguinho já vinha entornando o caneco].

- chama-se: Miller
- trata-se de: Cerveja draft co-patrocinadora do evento.
- na real: Uma latinha de Miller a R$4 é uma baita sacanagem, mas pra quem já estava bêbado na estrada, nenhum problema. No começo, ainda era possível bebê-la gelada. A última que peguei eu poderia jurar que era mijo.

Reconhecimento da área. Mais putz-putz.

- chama-se: Digitaria
- trata-se de: Eletrônico industrial tipo aquelas paradas alemãs de eletrônico industrial, manja?
- na real: Não à toa foram cooptados por uma gravadora germânica: fazem um som bem competente, visu meio gótico-rave [?], banda nascida for export. Não é a minha praia [já passei perto, mas encontrei Jesus], mas também divertiu.

Pega-se mais uma cerveja, conversa-se aqui e ali, risadas, visual ótimo [saca aqueles morros que dão vontade de embrenhar pelo meio do mato?]. De repente, olho pra trás e vejo uma senhorita de feições parecidas com a Bjork passando por trás de mim. Com aquele estilão 70's, não poderia ser outra pessoa...

- chama-se: Anne
- trata-se de: Amiga de velha data do BOI, apesar de nunca termos visto um ao outro.
- na real: Uma moça deveras simpática ao vivo, radiante pela expectativa de ver o Supergrass, sua banda preferida. Diga-se de passagem: LINDA.

O DJ toca "Drive All Over Me" do My Bloody Valentine e bate um flashback repentino da época do Objetivo [êêê, 2002!]. Sentamos no chão, começam umas microfonias, o negão anuncia a primeira banda de róque da tarde. A indiarada toda cola na frente do palco pra ver qualé que é a desses caras.

- chama-se: Walverdes
- trata-se de: Power-trio com os seis pés no roquenrou sujo, beirando a grungêra.
- na real: Em disco, não me despertou nenhuma emoção, mas o show dos caras é poderoso. Na empolgação, o baixista teve a moral de estourar o mizão [a mais gorda das quatro cordas do baixo]. O dia em que algum maldito produtor conseguir transportar o peso de palco deles pra disco, eu compro a bolacha correndo.

Mais rolês, mais bate-papo, conheço um jornalista e maaais cerveja. Hora dos camaradas subirem no palco. Mas aquela guitarra meio estourada no Walverdes... Será que... Não, não é possível que vão cagar o show dos caras....

- chama-se: Ludovic
- trata-se de: Joy Division + Minor Threat + Mission Of Burma + letras BOAS em português.
- na real: O som HORRÍVEL do meio pra frente destruiu uma apresentação que, pros padrões de Jair & cia, vinha sendo o trivial: descontrole, guitarras gritando, demência, provocações ao público, tudo aquilo de bom que o rock veio perdendo nos últimos anos. Desgraças a parte, o Ludovic a céu aberto caiu bem melhor do que o esperado. Mais 20 ou 30 fãs para a coleção deles. E que venha uma equalização decente da próxima vez.

Cena: enquanto o rock comia no palco, revoadas de pássaros apareciam dos morros verdes de Atibaia rumando ao horizonte, pintando um cenário pra lá de bucólico. Aí você desviava o olhar e lá estava o Zeek estourando corda de guitarra. Lindo. Mas, como tudo tem que acabar, aquela tarde também deveria. E com o pôr-do-sol, o gramado começava a encher de gente pra ver aquele negócio que tentam me vender todo dia como salvação do rock nacional.

- chama-se: Cachorro Grande
- trata-se de: Uma banda boa com um vocalista que sempre estraga tudo.
- na real: A mesma coisa dos outros shows que vi dos caras: instrumental fudido, influências saudáveis de The Who, The Jam e afins. Tudo no lugar certo, mas quando aquele vocalista abre a boca só sai merda. Letras ruins, vocal ruim e uma vontade CU de ser o Roger Daltrey. Ainda tava usando a camiseta "Who the fuck is Mick Jagger?". Ninguém avisou o cidadão que só o Richard Ashcroft pode usar aquilo e ficar impune?

Lugar quase cheio, agora. Filas intermináveis pra qualquer coisa, menos para os banheiros [obrigado, Senhor!]. Não canso de encontrar conhecidos na multidão. Parecia que só a minha mãe não estava lá. Mas seria pouco provável que ela fosse. Ela prefere os shows de graça do Moacir Franco, aqui na Av. do Povo.

- chama-se: Mission Of Burma
- trata-se de: Tiozinhos dos 80's, R.E.M. evil version.
- na real: Na hora em que vi o amp de guitarra sendo montado na cara do palco, ao lado do Ademar [guitarrista], senti que vinha coisa boa dali. Colei na grade bem na frente do Claudião [baixista] e aguardei ser assaltado por um turbilhão de energia que 99,9% das bandas de moleques não tem. Aliás, algo importante aqui: a maior mentira de todos os tempos no rock é a máxima de que pra tocar punk e derivados, não é necessário saber tocar. UMA PICA: o Ademar toca demais, assim como o Carlão [batera, que dava uns berros PREZA lá atrás]. Já na terceira música, precisava desabafar com alguém e topei com o Andy do meu lado. "Meu, quê que são esses véio?". Ninguém cohecia, mas todo mundo se rendeu na hora. Pelo menos em umas cinco músicas causaram comoção generalizada, mas a coisa toda veio abaixo mesmo em "That's When I Reach For My Revolver" e "Academy Fight Song". Hits, sempre eles. Obrigado, Senhor. De novo.

Dois anos e quatro meses depois, consegui me recompor e pegar uma cerveja. Mais rodas de conversa. Meus companheiros de via[da]gem somem.

- chama-se: Nação Zumbi
- trata-se de: Se não sabe o que é, desligue o computador e vá ler um livro.
- na real: Pela trilhocentésima vez, a mais competente [juro não usar mais essa palavra neste texto] banda nacional ao vivo aparecia no meu caminho. Como era o mesmo repertório de outros shows - e sabendo que seus shows em festivais funcionam como um relógio - fiquei passeando boa parte do tempo e vi só a segunda metade da apresentação. Uma macadame sonora, como sempre. Também, com aquela tamborzada de fazer chover... Ops...

- chama-se: Ira!
- trata-se de: Um La Carne mais fraquinho.
- na real: Não vieram com a palhaçada do Acústico, mas começaram o show com a cover ruim de "Train In Vain". Melhorou depois, com "Assim que Me Querem", "Dias de Luta", "Gritos Na Multidão", "Envelheço na Cidade"; enfim, os velhos clássicos para a massa. Na verdade, nem dá muito tesão escrever sobre o show dos caras, porque você olha pra cara deles no palco e sabe exatamente o que vai ouvir. Tá, foi legal ouvir "Teorema" e "Foxy Lady" [sim, Hendrix], mas nada que saísse do absolutamente previsível. Ok, fui injusto: não esperava que eles fossem tocar aquelas MERDAS de "O Bom e Velho Rock And Roll" e "Entre Seus Rins". No meio das duas, vai o Scandurra e fala no microfone: "róque de tiozinho é a puta que pariu". Depois, o Nasi: "a vida começa aos quarenta". Acho que as questões existenciais de meia-idade estão começando a prejudicar seriamente a banda. Psicanálise neles. Djá. Mas, falando sério, a tal da música nova é bem boa.

Niqui o palco da atração principal da noite começou a ser armado, os pingos esparsos que caíam do céu desde o início da noite viraram uma bela duma chuva. Cooorre pros toldos. Uma hora de atraso devido a um teclado que teimava em não funcionar. Nêgo fica debaixo d'água pra não perder o lugar na área do gargarejo. Meus óculos não permitem tal atitude, apesar de coçar de vontade pra ir lá ver a careca do Gaz Coombes de perto.

- chama-se: Supergrass
- trata-se de: Talvez a única banda dos anos 90 a fazer uma referência tão direta à cannabis e não tocar reggae.
- na real: Bengamos e conbengamos: eles já passaram dos trinta já há uns anos. Natural que uma hora eles fossem meter o pé no freio - e o fizeram com o atual Road to Rouen, causando a ira dos fãs do rock acelerado e dançante dos supermaconheiros. Apesar de começarem o show jogando pra torcida com "Lenny", "Caught By The Fuzz" e uma versão linda de "Mary", nem isso amaciou os indies mais ferrenhos quando começaram as baladinhas do disco novo, tanto é que alguns dos mais babacas foram embora [mesmo após uma impecável e emocionante versão voz-e-violão para "St. Petersburg"]. Gaz, sacando que nem os mais devotos aguentariam a terceira baladinha seguida ao Fender Rhodes, mandou: "I think some rock and roll would be nice, eh". Aí eles resolvem pôr tudo abaixo com "Kick in the Teeth", "Rush Hour Soul", "Moving", "Grace", "Richard III" [YEAH!], "Strange Ones", fechando com "Pumping In Your Stereo". Thank you, good night, etc, mas peraí, cadê "Sun Hits The Sky"? Sobe um roadie pra afinar o violão, dando sinais que o bis seria com coisa do disco novo. Mas uma luz divina ilumina a cabeça desmatada de Gaz, que pega sua guitarra estranha e manda "Sun Hits The Sky". Living is easy with time on your side. É, lá se vão quase 10 anos desde a primeira vez que vi o clipe do carro vermelho na estrada desértica. E hoje ostento uma careca quase igual a tua, Gaz. Só não ando de suspensórios, ainda. Ainda.

Hora de voltar. Ou não? Sei lá, eu estava bêbado e sem comer nada havia mais de 14 horas. Encarar um lanche de R$6 que em Taubaté não custaria nem R$1,90 é dose, mas era a única opção de saciar minhas lombrigas gordas.

- chama-se: Black Dog
- trata-se de: Um cachorro quente [perderam um ótimo trocadlho com a banda do vocalista mala] com purê, maionese e batata palha.
- na real: Era saboroso, mas a maioria das coisas de comer o seria àquela altura da madrugada.

Depois, uma procissão purgatórica até a van - novamente 15min de caminhada, mas depois de trocentos shows, alcoolizado e tentando em vão desviar da lama, parecia levar dias. Mr. Frê me encontra no meio do caminho e mostra orgulhoso o troféu da noite: o setlist do Supergrass [ele sempre consegue o que ele quer]. Muito barro depois, chegamos à van e percebemos que um de nós não estava lá. "Quem vai buscar o cara?", ninguém responde e lá vai o BOI de novo fazer sua parte para um mundo melhor. As distâncias a esta hora pareciam infinitas. O tal do Sandyjunior tava lá berrando no palco e eu, como um zumbi, procurando um cara de jaqueta amarela feito um bobo no meio dos que restaram pelo gramado.

Volto pra van numa caminhada que deve ter durado, no mínimo, duas horas e meia. Entro, "não achei o cara", encosto no último banco e desmaio. Pouco depois, alguém me cutuca, "alguém acorda o BOI aí". Estávamos perto de casa. Vira à esquerda, casa de portão vinho, abraço pra vocês e pra quem foda sua família. Eram mais de 5 da manhã, comi quase uma pizza inteira de mussarela e comecei a escrever essa birosca. Só quando dormi de verdade e acordei às 14h30 que eu senti os efeitos de mais de 12h de rolê de rock: as costas completamente destruídas, uma carteira vazia - e só aí descobri o quanto havia gastado em álcool na tarde/noite de ontem - e um par de tênis furados [?]. Mas, pra falar a verdade, foda-se. Enquanto voltava naquela caminhada interminável à van, um carro passou por mim com cinco pessoas gritando a plenos pulmões "You Only Live Once" do renascido Strokes.

You only live once. Isso diz tudo.

07 abril, 2006

Hierofante Púrpura


Mogianos tramando a próxima escaletada


Diretamente de Mogi das Cruzes [terra de Agentes, Fud, Maurício de Souza, Mordeorabo e The Flaming Lips], surge mais uma banda predestinada a FODER corações e mentes - e com sérias chances de LIGAR no dia seguinte, mandando bombons e flores, etcetera.

Bebendo [vinho] das fontes psicodélicas dos 60's e 70's - inclua aí muito Mutantes e Beatles, com uma interessante pitada de progressivo pinkfloydiano - o Hierofante soa como... Erm... Hmmm... Foda-se, soa como UMA MESA DE JANTAR LISÉRGICA NUM DOMINGO DE MANHÃ PÓS-FARRA, seja lá o que isso significar. Se esses moleques não tivessem antecedentes PUNKS, daria pra imaginá-los facilmente como uns hippies estudantes de comunicação ou história, levando o som e pagando de letrados. Mas hippies nunca absorveriam tão bem as boas influências da época que eles próprios cultuam: iriam querer partir pro lado HARD BLUES SOLÍSTICO da coisa e jogar fora um monte de grandes idéias. Ou entupir de teclados à la Rick Wakeman [a.k.a. o homem que destruiu o Yes]. Também podemos chamar isso de MATURIDADE.

Voltemos ao Hierofante.

A banda nascida em 2005 é formada por dois ex-membros do falecido Fud, Felipe Lima e Danilo Sevali, Gabriel Lima [do Agentes] e Diogo Menichelli [baterista do "adormecido" Noupe]. [Detalhe: todas bandas egressas do hardcore. SHAME ON YOU, HIPPIES!!!]. Exceto por Diogo, o dono irredutível das baquetas, os outros três revezam os instrumentos no palco, fazendo aquela dinâmica interessante que todo bom nerd musical gosta. E os malditos tocam demais. Vá à página deles no Trama Virtual e delicie-se com as mudanças de sabores etéreos de "Muleta de Espinhos" [gravada ao vivo com uma qualidade bem acima da média] e "Homem de Cera". Arnaldo Baptista ficaria orgulhoso em saber que produziu rebentos diretos de seu Lóki: "Redenção" termina num delicioso honky tonk à lá "Será Que Eu Vou Virar Bolor?".

E são apenas essas três músicas [e um clipe de "Homem de Cera"] que constituem todo o compêndio registrado desta banda. Fizeram pouco mais de quatro shows e já despertam a curiosidade dos que sabem que a revolução não vai ser transmitida pela MTV. Uma vez eu disse a uma amiga que "de influências legais, o inferno estava cheio". Mas esses caras resolveram ir no cerne e extraír algo realmente especial. Está por vir um estrago incalculável. Cobrem-me daqui a alguns anos.

04 abril, 2006

"1986", One Last Wish

Disco lançado em 1999 pela Dischord, mas gravado em 1986 por integrantes do extinto Rites of Spring (emo pacarai, viu!). Os integrantes eram, nada mais nada menos, Guy Picciotto (vocal e guitarra), Brendan Canty (bateria), Michael Hampton (guitarra e vocal) e Edward Janney (baixo e vocal). O disco foi produzido pela banda juntamente com camarada Ian MacKaye, e gravado em 3 dias de novembro. São 12 faixas que viajam por Clash, Minutemen, e com pitadas de Bad Brain e Minor Threat. Coisa fina que não se acha moscando por aí, da mesma forma que Fugazi não dá em árvore.


1. Hide 2. Burning in the Undertow 3. Break to Broken 4. Friendship is Far 5. My Better Half 6. Loss Like a Seed 7. Three Unkind Silences 8. Shadow 9. Sleep of the Stage 10. One Last Wish 11. This Time 12. Home is the Place