04 dezembro, 2005

Ho-ho-ho: Seamus e Pearl Jam em São Paulo!

Sexta:

TOP 16 SHOWS DO SEAMUS
Como uma rapidinha no elevador

01. 26/09/2004, com Elegia + La Carne em São José dos Campos
02. 11/06/2005, com The Mess Machine em Taubaté
03. 02/12/2005, com La Carne + Fuzz Faces em São Paulo
04. 23/07/2005, com Estado de Coma + Gin Tonics + Guerrilha + Demoon em Pinda
05. 19/11/2005, com NoCow + The Vain + Copacabana Café + Mess Machine em Taubaté
06. 08/10/2005, com The Vain + Fellaccios em Taubaté
07. 11/09/2005, com The Vain + Montauk + Daylight Sparks + Barflyers em Santos
08. 17/09/2004, com Basement Monks + Agentes em Mogi das Cruzes
09. 08/05/2004, com The Vain + Shed + Labbro em Taubaté
10. 20/08/2005, com Agentes + The Bonnie Situation + Transistors em Mogi das Cruzes
11. 08/11/2003, com The Vain + Blemish + Ludovic em Taubaté
12. 05/08/2005, com The Vain + Implastika + Hardgrau + Sophomore Effort em SJC
13. 24/10/2004, com Yang + Siddhaloka + Ludovic em Taubaté
14. 19/03/2005, com La.Marca em São José dos Campos
15. 05/09/2004, com The Vain + Nap em São José dos Campos
16. 30/04/2005, com Popstars Acid Killers em São José dos Campos

Sábado:

TOP 10 11 12 SHOWS QUE EU VI
E esta lista se torna cada vez mais caótica

01. Sonic Youth, Claro Q É Rock [nov/2005]
01. The Flaming Lips, Claro Q É Rock [nov/2005]
02. Pearl Jam, 2º show no Pacaembu [dez/2005]
02. Television, Sesc Pompéia [out/2005]
03. Patife Band, Hotel Crowne Plaza [jul/2005]
04. Nação Zumbi, Sesc Taubaté [mai/2005]
05. Iggy Pop & The Stooges, Claro Q É Rock [nov/2005]
06. La Carne, Anfiteatro da Comunicação [mai/2005]
07. Lobão, Sesc Taubaté [out/2001]
08. Elegia, Chopp do Poeta [jul/2002]
09. Ludovic, Posso! Skate Bar [abr/2004]
10. The Vain, Thelema Rock Bar [jan/2004]

Domingo:

TOP 10 TÍTULOS MAIS PREZA DO TIMÃO
Os que eu vi, por favor

01. Brasileirão de 1999
02. Mundial de 2000
03. Paulista de 1999
04. Brasileirão de 1998
05. Brasileirão de 1990
06. Paulista de 1995
07. Copa do Brasil de 2002
08. Paulista de 2001
09. Copa do Brasil de 1995
10. Brasileirão de 2005

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Este final de semana pode ser todo resumido em listas. Milhares delas. Aliás, estou preocupado com o teor diarinho que possa vir a seguir, mas que se dane. O show do Seamus foi muito mais curto do que eu gostaria, mas foi intenso e muito redondo se levarmos em conta os 17 dias sem ensaio. Divertido, sem dúvida. E é particularmente revigorante receber elogios de pessoas que só gostam daquilo em que conseguem reconhecer honestidade e espírito, como os Cães. Vale uma vida. Depois, uma aula de sexo com o tiozinho taxista [e ouvindo Television e Deep Purple, cortesia da Kiss FM], hambúrgueres, mais sexo punhetal na casa do Gabriel, sono pesado de poucas horas, matéria do Galvão Chorão sendo usada como papel higiênico, toalhas de banho comunitárias, manifestações do Turco Loco na Av. Paulista, carros de som tocando Alice In Chains, PF com costela no boteco da esquina, e então o Pearl Jam.

Porra. Muvuca pra entrar, três horas em pé, palco baixo demais para 40 mil pessoas na pista e o caralho. Tudo pra ser um programa indígena, realçado pelo show do Mudhoney com um repertório bissexto que ignorou, entre outros clássicos, "Suck You Dry" e "Blinding Sun". Mas essa sensação pessimista se dissipou quando Eddie Vedder entrou no palco gritando o mais exortivo "OOONE, TWOOO! ONE, TWO THREE, FOUR!!!" da história para introduzir a paulada "Breakerfall". Daí pra frente foi se segurar no meio da multidão pra não morrer. Pontos altos: "Lukin" [sorte que os ivenôu da vida não conhecem], "Elderly Woman Behind The Counter In A Small Town" [com um maravilhoso ERRO de Stone Gossard], "Given To Fly" [com gritos de excitação do maior fã de PJ que conheço, o sr. Thiago Loco], "State Of Love And Trust" ["não lembrava que essa música era tão boa", by Felipe Puto], "Jeremy" [eu mesmo não lembrava o quanto gostava dessa música], e, acima de tudo, uma versão avassaladora de "Kick Out The Jams" do MC5 com Steve Turner e Mark Arm se redimindo da reticente apresentação do Mudhoney de duas horas antes. Maldito show foda. MALDITO SHOW FODA. Com direito a "Rockin' In The Free World" pra fechar a parada. Mesmo assim, só de pensar na quantidade de músicas fodas que eles deixaram de lado ["Rearviewmirror", "In Hiding", "Hail Hail", "Porch", "Go", "Nothingman", só pra citar algumas] já faz entender os fãs que foram a TODOS os shows do PJ no Brasil; nenhum show deles é igual ao outro. Mas arrisco dizer que peguei o melhor setlist dos shows do Brasil. Obrigado, sr. Vedder. Ignore os fãs ivenôu e continue tocando "Lukin" para as platéias 3º mundo no ano que vem [porque eu estarei lá de novo].

Domingo foi o mesmo de sempre: trampo estressante e cerveja com a velha guarda no fim da tarde. Com o diferencial do tiozão no fim da tarde depois do jogo do Timão. Reclamava da demora em a polícia fechar a avenida da cidade pra comemoração do título: "Esse cara não deve ter filho. Deve ser estéril. Os outros é que fazem pra ele". E emendou a pérola do dia: "Olha, eu não sei a sua condição social, nem a do seu amigo. Futebol é a única coisa que une as pessoas independentemente da classe social". Por mais conformista que esse pensamento seja, era tudo o que eu queria ouvir pra não me sentir culpado por gostar de futebol num país de necessidades mais urgentes. Que o esporte bretão fosse uma muleta, não a função de vida de tanta gente. Seria tudo melhor.

06 novembro, 2005

Show: Los Hermanos na roça!

Ei, Amarante, toca uma pra mim!

Mas olha se não são eles, de novo. Los Hermanos, a banda brasileira mais cultuada desta década pela crítica e universitários estudantes de Comunicação e humanidades em geral. A que desperta mais amor e ira, adoração e pichação, teorias e indiferença, ao mesmo tempo. Acima de tudo, uma banda que desperta as mais íntimas contradições nos que se arriscam a contextualizá-la [porque eu nunca li uma crítica que os defendesse com argumentos sólidos, nem alguma que os criticasse que não fosse gratuitamente]. E, justamente por isso tudo, um show deles é algo bastante interessante de ANALISAR. Não apenas musicalmente. Aliás, comecemos pela única coisa que deveria importar: o som.

A Estrutura, aqui em Taubaté, é conhecida por prover um som de merda à maioria dos artistas que lá se apresentam, seja Tati Quebra-Barraco ou o João Bosco. E não foi diferente com os cidadões aqui em questão: quase em nenhum momento do show foi possível entender claramente alguma palavra das letras das músicas [o que aparentemente não incomodou ninguém, já que a maioria dos presentes parecia saber todos os versos de cor]. O som embolava ainda mais quando os guitarristas Amarante e Camelo resolviam atacar na distorção, como na ótima "Condicional". Uma maçaroca sonora terrível, que não condiz com a qualidade e o tamanho do equipamento da casa. Vai ver que a direção do recinto [ou o técnico de som] pensa que todos ali engoliriam qualquer merda. Desculpem-me. Meu ouvido não é penico. E não fui só eu que reclamei.

"Então quer dizer que a casa cagou o show?". Quase. Por incrença que parível, esse foi disparado o melhor dos três shows que já vi dos caras. Pela perfórmance no palco, não pelo som, é bom que se diga. Marcelo Camelo aprendeu a se portar como um músico de banda, o que fazia muita falta nos shows do LH. A desenvoltura novidadeira talvez seja fruto de sua visível evolução como músico [o meninão está tocando paca, debulhando com propriedade uma Hofner semi-acústica de três captadores tipo "torradeira" que é o bicho]. Amarante mandou aquela simpatia de sempre, recebendo pedido de casamento das meninas e também tocando guitarras cada vez mais belas. E melhor.

Importante, e sem vaselina: o disco novo FUNCIONA BEM PRA CARALHO AO VIVO, ao contrário do que andaram escrevendo por aí. Tocaram-no na íntegra [tem o setlist no site oficial], inclusive as difíceis [na falta de outro adjetivo melhor] "É de Lágrima" e "Os Pássaros". O que em 4 parecia lento e melancólico, ao vivo ganha um sabor um pouco diferente, uma força que parece compulsória. Outra boa do disco, "Pois É", teve aquela marretada de guitarra reproduzida com classe, pompa e circunstância, golpeando certeiramente o córtex dos presentes [o meu, pelo menos]. "Condicional", citada alguns parágrafos acima, é uma cartada de mestre dos Hermanos em show. As bossinhas, insossas na gravação, caíram bem e nem a odiosa "Horizonte Distante" conseguiu desagradar. Diante de tanta malhaçao que havia lido sobre as músicas novas deles ao vivo, resta dúvida: ou todos ficaram loucos ou eu é que não sou tão ranheta assim. Voto pela segunda opção, apesar de saber que não conto com o apoio de vocês nessa questão. Eu compreendo...

O final com "O Vencedor" foi a chave de ouro de um show quase excelente. [Só ficou faltando "Cadê Teu Suín-?", uma das preferidas da casa. Mas ok, eu posso suportar: pra quem foi ver o Television e ficou na saudade de ouvir "Friction", é o menor dos males]. A coisa toda terminou com confetes e serpentinas pra todo lado, narizes de palhaço em vários dos presentes e festa e comoção e fãs em prantos e gente morta e sexo e um sorriso de satisfação em todos.

TODOS.

TODOS?

Aqui está a questão primordial que permeia a coisa toda.

Mais ou menos lá pela sexta música, estávamos eu e o amorzããão contemplando aquela apresentação quando um cidadão chega do meu lado e pergunta:


- Cê que é o BOI?
- Sim, sou eu. Por quê?
- Você tá analisando a banda, né?
- O quê?
- Cara, pára de analisar o show e curte.
- Hein? De onde você me conhece?
- Eu conheci você pelo vídeo do *.
- Ah, sim. Mas não tô analisando nada. Tô de boa...
- Cara, você tem que entender que eles são a nova Legião Urbana.
- Oi?
- Olha só, cara! Todo mundo cantando junto! Lindo, não é? Eles são a nova Legião Urbana.


Muita hora nessa calma. Inspira, respira, inspira, segura, conta até dez, expira. Meu caro colega, o Los Hermanos não são a nova Legião Urbana. Nunca serão. Porque estão restritos a um público de classe média, com acesso a música não propagada pelas rádios pop. Os Hermanos tem apenas UM sucesso comercial, o qual eles próprios e seu séquito renegam. [Inclusive cabe aqui um fato rápido: quando disse lá no trampo que ia ver o show do LH no sábado, me perguntaram "Cê curte 'Anna Júlia'?". Respondi que não e que eles nem tocam mais essa música nos shows. Tréplica: "Ué, então que músicas eles vão tocar?"]. Até onde eu sei, qualquer pessoa no Brasil, que tenha ouvido rádio nos últimos vinte anos, sabe dizer ao menos o nome de uma música da Legião. Não é demérito algum eles serem uma banda restrita a um público semi-elitizado culturalmente; este que parece querer alçar os Hermanos ao nível de importância de uma Tropicália [QUE PASSAVA NA TV, TOCAVA NO RÁDIO E SAÍA NAS PÁGINAS DOS JORNAIS, NÃO SE ESQUEÇAM].

Em meio a quase uma década de estabilidade econômica e política [numas], sem guerras e sem grandes ídolos, a ânsia da pós-adolescência em ter algo de importante acontecendo em seu tempo cria aberrações comportamentais como as eternizadas por Adolar Gangorra [por mais que haja sacaneação no texto, é um retrato perfeito de onde as coisas estão ameçando chegar: eu mesmo recebi olhares ameaçadores de AMIGOS MEUS ao ameaçar gritar 'toca Anna Júlia']. É uma dose letal de fanatismo embalada na falta de senso de humor e ironia saudável. Saber distinguir o trabalho de uma banda do culto criado por seus fãs, em casos como este, é uma tarefa difícil. O amor ajuda um pouco, mas é necessária muita boa vontade. Como tentar ouvir Oasis ignorando as bobagens que o Liam Gallagher fala: talvez você descubra uma boa banda, talvez você descubra uma porção de enganadores, talvez aquilo mude sua vida. No meu caso, por mais que eu ache a maioria dos fãs do LH um bando de malas sem alça**, prefiro encarar pelo fato que os shows dos barbudos renderam rolês historicamente divertidos. Cada um com as lembranças que lhe competem. As minhas são ótimas, obrigado.

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Em tempo: a Legião Urbana em 2005 se chama CHARLIE BROWN JR., que tem músicas aos quilos tocando por toda parte, vende os tubos de CDs, leva mais de 10 mil pessoas aos shows em qualquer lugar do país e parece vender mais camisetas com a imagem de seu langanho vocalista do que pastel na feira. Que deus nos mande uma guerra para cultuarmos heróis de verdade. O mais rápido possível.

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* O Dé é um camarada da faculdade [e fã de Los Hermanos] que fez um TCC sobre bandas de diversos estilos no Vale do Paraíba; e pegou o Seamus como "exemplo" de banda de rock alternativo. Ficou bem massa, o vídeo. Inclusive ele já recebeu autorização para ser divulgado num futuro DVD do Seamus, este que deve sair antes de 2010. Quem sabe.

** O amorzããão é uma grande fã de Los Hermanos, mas sabe se defender muito bem. Logo que entramos na Estrutura, ela me apontou o amontoado de gente que parasitava a zona do gargarejo duas horas antes do show e disparou: "Olha, eu adoro Los Hermanos, já perdi o critério com eles e etc, mas aquilo ali já é fanatismo demais".

27 outubro, 2005

Testemunhando a verdade: Television no SESC Pompéia


E eu paguei só R$15. Viva o Sesc!

Senhoras e senhores, foi fudido. F-u-d-i-d-o. Admito aqui, minha opinião sobre este show se tornou altamente parcial depois de eles terem mandado "Venus" logo de cara. O coração balançou. Mas vou confessar uma coisa a vocês: só conheço um dos três discos do Television. Obviamente, o clássico estupidamente maravilhoso e sensacional Marquee Moon. Só que eu preferia ter visto o show deles sem conhecer disco algum. Aí não ficaria chateado por eles não terem tocado "Guiding Light" e "Elevation". Ok, eles cometeram o pecado maior que foi não tocar "Friction" - e há relatos de indies que choraram no caminho de volta pra casa por causa deste triste fato. Mas, quer saber de uma coisa? FOI O MELHOR SHOW DA MINHA VIDA. Mesmo que o sr. Tom Verlaine [que tá parecendo o Kevin Bacon numa versão anciã] tenha dado umas deslizadas na guitarra; a voz, em pleno 2005, a gente até perdoa. Entretanto, o resto da banda [que era formada por Wilson Fittipaldi no baixo, David Gilmour na guitarra e John Deacon na bateria, este último segurando a onda com vigor de moleque mesmo depois de quase 30 anos], estava impecável. Richard Lloyd deixou quase todos os guitarristas presentes ao recinto com vontade de vender suas guitarras e se dedicar a algo que realmente saibam fazer [Moreno, lembra do que o Lúcio Maia fez no show da Nação Zumbi ano passado no Sesc? Esquece. Não consegui nem olhar pro meu violão ainda...]. Enfim, histórico cada detalhe, em cada um de seus improvisos, em cada uma de suas falhas. Pessoas irão dizer durante anos que "aqueles filhos da puta não tocaram 'Friction'". Mas sempre dirão que foi um show sensacional. Duvido, e muito, do contrário.

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Vamos imitar a Carol só mais um pouquinho!

TOP 10 SHOWS QUE EU VI
Porque a geografia me impede um currculo mais extenso...

01. Television, Sesc Pompéia [out/2005]
02. Patife Band, Hotel Crowne Plaza [jul/2005]
03. Nação Zumbi, Sesc Taubaté [mai/2005]
04. La Carne, Anfiteatro da Comunicação [mai/2005]
05. Lobão, Sesc Taubaté [out/2001]
06. Elegia, Chopp do Poeta [jul/2002]
07. Ludovic, Posso! Skate Bar [abr/2004]
08. The Vain, Thelema Rock Bar [jan/2004]
09. Popstars Acid Killers, Sinfonia de Cães I [jun/2004]
10. OAEOZ, Outs [abr/2005]

Uma lista injusta, apesar de tudo.

17 agosto, 2005

"4", Los Hermanos



Acho que neste momento acabo de formar uma opinião [que pode mudar no decorrer do período, obviamente] sobre o disquelho novo do losermanus. Já alerto desde já que, para uma pessoa chata, murrinha e pretensiosamente metódica como eu, até mesmo o fato de o que estar em avaliação aqui sejam doze arquivos de mp3 [não tive a obra em si em mãos] pode ter influenciado de alguma forma o que vou escrever. [Suspiro]. Vamos lá, brainstorm, faixa por faixa pra deixar a coisa mais [ou menos] clara.

"Dois Barcos" começa com piano. Legal. Sussuros, bumbo marcando, um crescendo com metais, refrão com brilho, melodia que te carrega e acalenta. Dias antes, eu li por aí que o disco era "perfeito", que tinha um cuidado com arranjos muito superior a qualquer outro disco nacional, que tinha inspirações em Wilco, etc. Esta música faz você acreditar em tudo isso piamente. Mas - e já é melhor que eu diga por aqui - as oito faixas seguintes não chegam NEM PERTO de "Dois Barcos". Ao menos não perto dos elogios rasgados que andam ganhando por aí.

"Primeiro Andar" começa bem, mas aí aparece um teclado muito do pentelho, que parece saído diretamente do primeiro disco da Legião Urbana: o timbre é idêntico ao bregão usado em "Por Enquanto". Irrita e tira todo o tesão da música. "Fez-se Mar", exceto por uma guitarrinha com efeitos no finzinho, é uma bossa nova que, se tivesse sido escrita pelo cara que toca no barzinho da esquina, passaria batida. Maaas, como é Los Hermanos, é considerada "mais complexa que toda a produção pop nacional em 2004/2005" [ele quem disse]. Tá, a letra é boa [como todas do disco], mas convenhamos: eles têm coisa melhor.

"Paquetá" é algo como uma bossa-rumba na linha de "Retrato pra Iaiá", mas bem menos divertida. Novamente, nada de novo. E aqui eu começo a pensar se esse não seria um disco que soa como músicas de lados B. Talvez seja a produção, ainda mais abafada que a de Ventura. As melodias têm menos vida do que ameaçam transparecer. Ou dessa vez eles tenham pensado "eles querem letra, então terão letra" e colocado o peso das canções todo nos versos. Os arranjos, exceto por "Dois Barcos", são nada mais do que espartanos, secos demais. Parece sempre faltar algo que incite a melodia. [Um amigo meu de faculdade disse que tinha baixado as versões "ainda não mixadas do disco novo do Los Hermanos". E são os mesmos arquivos que re-ouço neste exato momento e que são exatamente iguais ao CD que alguém levou para a faculdade, esses dias].

Aí surge "Os Pássaros". Bom, esqueçam o "nem perto" alí de cima, esta música é nada menos do que foda. Porém, cai por terra aqui mais uma das baboseiras ditas acerca deste compêndio dos barbudos: eles não tomaram Wilco como inspiração, mas, sim, Low. "Os Pássaros" é IGUAL a Low na safra Secret Name. E eu, como fã de carteirinha do trio mórmom, não tive como deixar de notar a semelhança e adquirir uma grande simpatia pela canção. Parcialidade sensorial, fazer o quê. Não posso ignorá-la. Quer dizer, vai ver eles não fazem a menor idéia do que seja Low e apareçam dizendo que se inspiraram em alguma música do Tom Jobim, Francis Hime, Afaulfo Alves, Silvio Caldas, sei lá. Mas que parece, PARECE.

Quando o disco parece que vai engrenar a um patamar motivador, aparece "Morena". Mais uma música com cara de lado B do Ventura. Certa vez, Michael Stipe disse que ele poderia fazer um disco repetindo doze vezes a fórmula de "The One I Love", mas que isso não faria sentido porque "essa música já havia sido escrita". "Morena" não acrescenta absolutamente NADA à discografia do LH, além de se parecer com outras várias canções deles próprios. Skip. "O Vento" talvez seja o hit da bolacha. Sem dúvida é melhor do que "Cara Estranho", mas não é necessário muito mérito para sê-lo. O teclado mala aparece de novo aqui, mas não irrita. Fica até no contexto, veja você. Mas, como todos os hits do LH, não é a melhor música do disco. Ao menos diverte e tem algo mais além da boa letra, ao contrário de três das seis músicas anteriores.

"Horizonte Distante" é, pasmem, ANOS 80 PURO. É a última coisa que eu imaginaria ver esses caras tocando: marcação bate-estaca na caixa, com uma melodia reta cheia de teclados [Bruno Medina, o incansável, TIREM ESSE CARA DAÍ PELO AMOR DE DEUS], solos de hard rock e refrão épico-metal-farofa com banjo [!]. Estranha e ruim. Tipo, RUIM MESMO [e dessa eu posso falar com conhecimento pleno de causa, já que tive minhas tendências góticas e farofeiras por esses desvios da vida]. Na boa, é uma aberração sonora, no pior dos sentidos. "Condicional" vem na sequência e coloca as coisas mais ou menos no lugar; é daqueles rockinhos com riffs ixpertos com a cara da banda [mais precisamente, do Amarante]. Bom, é a fórmula se repetindo, mas antes isso do que coisas como a música anterior. E rola uma barulheira massa no final. É o sinal de que ainda há vida para acontecer até o fim do disco. E, exatamente neste ponto, vira-se o jogo.

"Sapato Novo", ESTA SIM, começa a justificar todos os elogios ao disco. Bossa nova? Sim, mas com TECLADOS DECENTES ao fundo [é tão difícil assim, Medina?] que criam uma textura belíssima; e uma melodia delicada e bonita, sem ser maçante [mesmo que ela chupe as bolas de Chico Buarque com uma cara-de-pau incrível]. Coisa finíssima. Depois, "Pois É". Crianças, esta tem uma melodia pacífica que vai te carregando, carregando... ATÉ QUE, numa espécie de pseudo-refrão, SURGE DO NADA UMA GUITARRA E TE CORTA BEM NO MEIO DO CRÂNIO. Fantástico. A prova de que metade do disco que se passou foi perda de tempo. A prova de que o LH é melodicamente genial quando quer; quando não se atém a mesmice e seus próprios clichés. Aqui, sim, um dos melhores momento do rock nacional em muito tempo, seja ele mainstream ou independente. Se tiver que baixar uma música para começar a ouvir esse disco, comece por esta. Mesmo se você não gosta de Los Hermanos, dê uma chance ao menos a esta faixa [conselho inútil, pois só agora percebo o tamanho que isto está ficando e dificilmente algum de vocês que não simpatiza com os caras deve ter chegado até aqui].

E, por fim, "É de Lágrima". Guitarrinhas que lembram Low, de novo [porra, não é possível que eles não conheçam...]. Calminha até o fim do segundo minuto; e você acaba pensando que vai ficar só nisso. AÍ APARECE UM MONTE DE GENTE GRITANDO E BARULHEIRA E TECLADO E SOCORRO ELES QUEREM ME PEGAR EU ESTOU GRÁVIDA DE LUIS CARLOS PRESTES AAAHHH e depois os ruídos vão baixando, volta a guitarrinha e ficam fios de teclado e televisões fora do ar dizendo o último adeus do disco a você, ouvinte. Amém. Uma bela canção, que corrobora a tese levantada na canção anterior: eles são bons quando querem ser bons. E eles são naturalmente bons. Falta saber o que os impede de fazer um disco regular [regular no sentido do nível das canções: porque o Ventura tem momentos de pura malice, e umas canções do Bloco do Eu Sozinho soam um tanto anacrônicas depois de quatro anos]. Enquanto esse disco não vem, pegue este e programe as faixas 1, 5, 10, 11 e 12, no repeat. Vale a pena.