17 agosto, 2005
"4", Los Hermanos
Acho que neste momento acabo de formar uma opinião [que pode mudar no decorrer do período, obviamente] sobre o disquelho novo do losermanus. Já alerto desde já que, para uma pessoa chata, murrinha e pretensiosamente metódica como eu, até mesmo o fato de o que estar em avaliação aqui sejam doze arquivos de mp3 [não tive a obra em si em mãos] pode ter influenciado de alguma forma o que vou escrever. [Suspiro]. Vamos lá, brainstorm, faixa por faixa pra deixar a coisa mais [ou menos] clara.
"Dois Barcos" começa com piano. Legal. Sussuros, bumbo marcando, um crescendo com metais, refrão com brilho, melodia que te carrega e acalenta. Dias antes, eu li por aí que o disco era "perfeito", que tinha um cuidado com arranjos muito superior a qualquer outro disco nacional, que tinha inspirações em Wilco, etc. Esta música faz você acreditar em tudo isso piamente. Mas - e já é melhor que eu diga por aqui - as oito faixas seguintes não chegam NEM PERTO de "Dois Barcos". Ao menos não perto dos elogios rasgados que andam ganhando por aí.
"Primeiro Andar" começa bem, mas aí aparece um teclado muito do pentelho, que parece saído diretamente do primeiro disco da Legião Urbana: o timbre é idêntico ao bregão usado em "Por Enquanto". Irrita e tira todo o tesão da música. "Fez-se Mar", exceto por uma guitarrinha com efeitos no finzinho, é uma bossa nova que, se tivesse sido escrita pelo cara que toca no barzinho da esquina, passaria batida. Maaas, como é Los Hermanos, é considerada "mais complexa que toda a produção pop nacional em 2004/2005" [ele quem disse]. Tá, a letra é boa [como todas do disco], mas convenhamos: eles têm coisa melhor.
"Paquetá" é algo como uma bossa-rumba na linha de "Retrato pra Iaiá", mas bem menos divertida. Novamente, nada de novo. E aqui eu começo a pensar se esse não seria um disco que soa como músicas de lados B. Talvez seja a produção, ainda mais abafada que a de Ventura. As melodias têm menos vida do que ameaçam transparecer. Ou dessa vez eles tenham pensado "eles querem letra, então terão letra" e colocado o peso das canções todo nos versos. Os arranjos, exceto por "Dois Barcos", são nada mais do que espartanos, secos demais. Parece sempre faltar algo que incite a melodia. [Um amigo meu de faculdade disse que tinha baixado as versões "ainda não mixadas do disco novo do Los Hermanos". E são os mesmos arquivos que re-ouço neste exato momento e que são exatamente iguais ao CD que alguém levou para a faculdade, esses dias].
Aí surge "Os Pássaros". Bom, esqueçam o "nem perto" alí de cima, esta música é nada menos do que foda. Porém, cai por terra aqui mais uma das baboseiras ditas acerca deste compêndio dos barbudos: eles não tomaram Wilco como inspiração, mas, sim, Low. "Os Pássaros" é IGUAL a Low na safra Secret Name. E eu, como fã de carteirinha do trio mórmom, não tive como deixar de notar a semelhança e adquirir uma grande simpatia pela canção. Parcialidade sensorial, fazer o quê. Não posso ignorá-la. Quer dizer, vai ver eles não fazem a menor idéia do que seja Low e apareçam dizendo que se inspiraram em alguma música do Tom Jobim, Francis Hime, Afaulfo Alves, Silvio Caldas, sei lá. Mas que parece, PARECE.
Quando o disco parece que vai engrenar a um patamar motivador, aparece "Morena". Mais uma música com cara de lado B do Ventura. Certa vez, Michael Stipe disse que ele poderia fazer um disco repetindo doze vezes a fórmula de "The One I Love", mas que isso não faria sentido porque "essa música já havia sido escrita". "Morena" não acrescenta absolutamente NADA à discografia do LH, além de se parecer com outras várias canções deles próprios. Skip. "O Vento" talvez seja o hit da bolacha. Sem dúvida é melhor do que "Cara Estranho", mas não é necessário muito mérito para sê-lo. O teclado mala aparece de novo aqui, mas não irrita. Fica até no contexto, veja você. Mas, como todos os hits do LH, não é a melhor música do disco. Ao menos diverte e tem algo mais além da boa letra, ao contrário de três das seis músicas anteriores.
"Horizonte Distante" é, pasmem, ANOS 80 PURO. É a última coisa que eu imaginaria ver esses caras tocando: marcação bate-estaca na caixa, com uma melodia reta cheia de teclados [Bruno Medina, o incansável, TIREM ESSE CARA DAÍ PELO AMOR DE DEUS], solos de hard rock e refrão épico-metal-farofa com banjo [!]. Estranha e ruim. Tipo, RUIM MESMO [e dessa eu posso falar com conhecimento pleno de causa, já que tive minhas tendências góticas e farofeiras por esses desvios da vida]. Na boa, é uma aberração sonora, no pior dos sentidos. "Condicional" vem na sequência e coloca as coisas mais ou menos no lugar; é daqueles rockinhos com riffs ixpertos com a cara da banda [mais precisamente, do Amarante]. Bom, é a fórmula se repetindo, mas antes isso do que coisas como a música anterior. E rola uma barulheira massa no final. É o sinal de que ainda há vida para acontecer até o fim do disco. E, exatamente neste ponto, vira-se o jogo.
"Sapato Novo", ESTA SIM, começa a justificar todos os elogios ao disco. Bossa nova? Sim, mas com TECLADOS DECENTES ao fundo [é tão difícil assim, Medina?] que criam uma textura belíssima; e uma melodia delicada e bonita, sem ser maçante [mesmo que ela chupe as bolas de Chico Buarque com uma cara-de-pau incrível]. Coisa finíssima. Depois, "Pois É". Crianças, esta tem uma melodia pacífica que vai te carregando, carregando... ATÉ QUE, numa espécie de pseudo-refrão, SURGE DO NADA UMA GUITARRA E TE CORTA BEM NO MEIO DO CRÂNIO. Fantástico. A prova de que metade do disco que se passou foi perda de tempo. A prova de que o LH é melodicamente genial quando quer; quando não se atém a mesmice e seus próprios clichés. Aqui, sim, um dos melhores momento do rock nacional em muito tempo, seja ele mainstream ou independente. Se tiver que baixar uma música para começar a ouvir esse disco, comece por esta. Mesmo se você não gosta de Los Hermanos, dê uma chance ao menos a esta faixa [conselho inútil, pois só agora percebo o tamanho que isto está ficando e dificilmente algum de vocês que não simpatiza com os caras deve ter chegado até aqui].
E, por fim, "É de Lágrima". Guitarrinhas que lembram Low, de novo [porra, não é possível que eles não conheçam...]. Calminha até o fim do segundo minuto; e você acaba pensando que vai ficar só nisso. AÍ APARECE UM MONTE DE GENTE GRITANDO E BARULHEIRA E TECLADO E SOCORRO ELES QUEREM ME PEGAR EU ESTOU GRÁVIDA DE LUIS CARLOS PRESTES AAAHHH e depois os ruídos vão baixando, volta a guitarrinha e ficam fios de teclado e televisões fora do ar dizendo o último adeus do disco a você, ouvinte. Amém. Uma bela canção, que corrobora a tese levantada na canção anterior: eles são bons quando querem ser bons. E eles são naturalmente bons. Falta saber o que os impede de fazer um disco regular [regular no sentido do nível das canções: porque o Ventura tem momentos de pura malice, e umas canções do Bloco do Eu Sozinho soam um tanto anacrônicas depois de quatro anos]. Enquanto esse disco não vem, pegue este e programe as faixas 1, 5, 10, 11 e 12, no repeat. Vale a pena.
Assinar:
Postagens (Atom)